quarta-feira, 17 de abril de 2013

Episódio de Inês de Castro - explicação

Inês de Castro (C. III, 118-135)
            É o episódio lírico mais conhecido d’ Os Lusíadas. A história de amor de D. Inês de Castro e de D. Pedro era sobejamente conhecida. Era como todas as outras histórias de amores proibidos, é uma paixão trágica, porque fatal.
            Pode-se resumir este episódio aos seguintes factos: o contraste entre a despreocupação juvenil de dois amantes felizes e a realidade que lhes é hostil; a ida de Inês junto do rei, acompanhada dos filhos; as suas palavras de defesa e de pedido de misericórdia; as hesitações do Rei; o assassínio de Inês.


1.     – Estrutura do episódio:
a)     Introdução (118-119)
-        apresentação do «caso triste e dino da memória»;
-        responsabilização do Amor – força trágica e fatal «deste causa à molesta morte sua»
b)     Desenvolvimento (120 - 132)
-        as «memórias de alegria»
-        o «engano da alma, ledo e cego» da «linda Inês»
-        o amor recíproco «do teu Príncipe ali te respondiam»
-        um oponente e um destinador «o velho pai sesudo»
-        o dia fatal:
- Inês junto do Rei;
- discurso de Inês;
- piedade do Rei;
- ação dos conselheiros
c)     Conclusão e considerações do narrador (133 – 135)
- um crime de lesa-beleza «Tal está, morta, e pálida donzela» que a própria Natureza, sua amiga e confidente, chora.

2.     – Aspetos estilísticos mais relevantes:
Os tempos verbais: oscilam desde o pretérito (ação terminada já aquando do seu relato por Vasco da Gama) da Introdução, ao pretérito imperfeito do Desenvolvimento (maior presentificação de uma ação passada, no seu decorrer) e ao presente histórico (maior visualização do crime cometido) – estr. 134. Na estrofe 135 retoma-se o pretérito perfeito inicial e, com isso, a consideração da ação como já passada.
Os jogos de contrastes estão presentes ao longo de todo o episódio. A própria estrutura assenta num contraste de base: entre a felicidade amorosa (as «memórias de alegria») e o carácter trágico dos acontecimentos.


Principais contrastes:
«a de gozar da paz com tanta glória»
«linda Inês» (est. 120)
«memórias de alegria»
«engano de alma ledo e cego»
«Rei benino»
«contra hua dama»
vs
vs
vs
vs
vs
vs
«o caso triste e dino da memória»
«pálida donzela» (est. 134)
«tirar Inês ao mundo determina»
«doces sonhos que mentiam»
«pertinaz povo»      vs     «horríficos algozes»
«feros vos amostrais e cavaleiros»
 
As sonoridades: atentar sobretudo nas estrofes 120 e 121 que se encontram comandadas, de certo modo, pelo «linda Inês», colocado no centro do primeiro verso, originando uma assonância através da sequência de vogais abertas e ditongos orais doces (i/ui), sugerindo doçura e tranquilidade.
A mesma vogal (i) transmite a sensação de algo cortante na expressão «Traziam-na os horríficos algozes» (estr. 124).
Particularmente belo é o jogo de sonoridades da estrofe final – aliteração - , sugerindo sobretudo, o murmúrio prolongado das águas que correm: daí a profusão da consoante – r – e das nasais (est. 135).
A mesma estrofe termina com dois versos em que as sonoridades passam a ser na base das consoantes fricativas (v/f), antes de se retomarem as aliterações em nasais e em – r.




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