terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Os Lusíadas - contextualição IX - Espaço e tempo


Espaço
Espaço físico ou geográfico:
  • Caminho marítimo para a Índia – acção central
  •  Belém – praia das lágrimas – despedida das naus e fala do Velho do Restelo;
  • Melinde – largo de Moçambique e Mombaça onde os portugueses foram recebidos (Vasco da Gama conta a história de Portugal);
  •  Calecut – ponto de chegada à Índia – breves referências aos costumes e civilização orientais.
Território nacional (Lisboa, Coimbra, locais da batalhas) – plano da história de Portugal.

 
Tempo
Acção central - tempo presente
História de Portugal - tempo passado.
As profecias (como a história futura narrada por Tétis) - tempo futuro.
O tempo presente é o mais importante na obra, já que é o momento em que o povo português atinge a glória.
Acção Central
Começa in media res por isso torna-se necessário fazer uma analepse para retomar a ação desde o início.
História de Portugal
Será também uma longa analepse.
Profecias de Tétis
Considerada uma prolepse

Os Lusíadas - contextualização VIII - narradores


Os narradores
            O primeiro narrador é o próprio poeta, ele nunca se despersonaliza.
            Vasco da Gama, Paulo da Gama e Tétis são narradores heterodiegéticos com focalização omnisciente e servem para introduzir por encaixe a história de Portugal como ação secundária dentro da principal – Viagem marítima para a Índia.
            Vasco da Gama, no que toca à ação central, é narrador homodiegético.
            Camões é narrador heterodiegético de 3ª pessoa ao narrar a viagem a Mombaça (não intervindo na ação), mas na proposição é autodiegético, pois fala na 1ª pessoa.

Estrutura Actancial d’ Os Lusíadas
- Sujeito
  •  Vasco da Gama – plano da acção central;
  • Povo Português – plano da história de Portugal.

- Objecto
  •  Índia – plano da acção central;
  • Portugal – plano da história de Portugal.

- Adjuvantes

  •  Vénus, Marte e o rei de Melinde – plano da acção central;
  • Deus, a Providência e a força de um povo – plano da história de Portugal.

- Oponentes
  • Baco, Adamastor; Catual, elementos marítimos adversos e Velho do Restelo – plano da acção central;
  • Os castelhanos, os mouros, e os perigos do mar – plano da história de Portugal.

- Destinadores – entidade superior que faz depender a acção (do sujeito, dos adjuvantes e dos oponentes)da  sua vontade 
  •  O verdadeiro Deus, os Fados e Júpiter – plano da acção central;
  • O verdadeiro Deus – plano da história de Portugal.
  
- Destinatário – alvo do destinador, que neste caso coincide com o sujeito
  •  Vasco da Gama e companheiros – plano da acção central;
  • A nação portuguesa – plano da história de Portugal.

Os Lusíadas - contextualização VII - estilo

O Estilo n’ Os Lusíadas
            Na Invocação Camões pede às ninfas um estilo grandíloquo. Camões foi buscar aos poemas greco-romanos (às linhas arquitetónicas) a majestade do conjunto estrutural do poema. A principal causa desta majestade é a alegoria dos deuses. A intriga das divindades traz dramatismo e transcendência.
            Esta obra tem uma rica e variada imagística de gosto clássico. Existem n’ Os Lusíadas:
-        comparações;
-        metáforas;
-        sinédoques;
-        metonímias;
-        personificações ou prosopopeias;
-        hipérboles;
-        antíteses;
-        onomatopeias ou sonoridades imitativas;
-        aliterações (dão à linguagem visualidade e impressionismo);
-        hipérbatos (inversão da ordem natural da frase);
-        perífrases (revela o poeta como conhecedor da cultura clássica);
-        apóstrofes;
-        anáforas;
-        paralelismos;
-        ritmo ondulatório de certos versos, são artifícios que dão à linguagem tonalidades retóricas clássicas fugindo à vulgaridade;
-

Os Lusíadas - contextualização VI - estruturas

Estrutura externa:
a)     10 cantos com uma média de 110 estrofes cada;
b)     estrofes oitavas;
c)     versos decassilábicos;
d)     rima cruzada e emparelhada.

Estrutura interna:
a)     Proposição – apresentação do assunto;
b)     Invocação – invoca as ninfas do Tejo pedindo inspiração para escrever;
c)     Dedicatória – dedica a D. Sebastião;
d)     Narração – in media res tem como núcleo o descobrimento do caminho marítimo para a Índia, mas também é narrada a história de Portugal (a história começa a ser narrada a meio da ação «Já no largo Oceano navegavam»).

O assunto d’ Os Lusíadas desenvolve-se em quatro planos:
a)     plano da viagem – a narração da viagem de Vasco da Gama à Índia;
b)     plano da história de Portugal – a narração da história de Portugal feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, por Paulo da Gama ao Catual e a profetizada por Tétis;
c)     plano da mitologia – a intriga dos deuses que abre no consílio, logo no início da ação do poema, e fecha já no fim, na ilha de Vénus;
d)     plano das considerações do poeta – Camões expressa as suas ideias sobre a ambição, a injustiça, o desprezo das letras e dá conselhos ao próprio rei.

O episódio do Velho do Restelo representa o pensar humanista.

O Canto X funciona como síntese – os quatro planos congregam-se a fim de superar as profecias pessimistas do Velho do Restelo e do Adamastor através da vitória da ilha dos amores e da exaltação do ideal de heroicidade e virtude pela pátria que tinha sido perdido, mas que se acreditava que ressurgiria com D. Sebastião.

Os Lusíadas - contextualização V

Os Lusíadas

            Os Lusíadas são uma epopeia de imitação, uma vez que é uma obra elaborada à luz das epopeias homéricas, todavia a influência homérica é indireta, uma vez que a real base de imitação de Camões foi a Eneida de Virgílio.

            As epopeias cantam sempre as glórias de um estado organizado, surgindo portanto em épocas de grande pujança e glória dos povos cuja história é contada.

            O objetivo da realização d’ Os Lusíadas, para os humanistas, era a exaltação da língua portuguesa e a descoberta geográfica do mundo. Camões propôs-se a conferir aos feitos portugueses uma categoria universal e a enobrecer a língua portuguesa através da realização do género literário considerado superior.
            Os Lusíadas são realizados sob um duplo entusiasmo: exaltação dos feitos nacionais e sedução das formas clássicas.
Camões foi um homem do Renascimento, formado na cultura humanista, mas ao serviço de uma ideologia cavaleiresca e de um destino pátrio – dilatação da fé e do império. Os Lusíadas estão imbuídos de uma perspetiva cavaleiresca, uma vez que são supervalorizados os feitos guerreiros e os episódios de amor.

A descrição da natureza física é uma característica clássica. A natureza surge como objeto de contemplação, como observação das leis da natureza – o saber de experiência feito.

            O herói d’  Os Lusíadas é o povo português (herói coletivo) e não Vasco da Gama (herói individual) - «Eu canto o peito ilustre lusitano».
            Segundo António José Saraiva “Os heróis perdem a força e o relevo, em proveito de um destino, ou providência, noção abstrata com que se justifica transcendentalmente o estado. Tornam-se agentes involuntários, portadores de prenúncios, e apagam-se como individualidades.”

Os Lusíadas - contextualização IV - Maravilhoso pagão

Os Lusíadas  e o maravilhoso pagão

            O maravilhoso pagão tem origem na antiga Grécia, onde se cria uma religião em que os deuses, embora sendo seres superiores, têm características muito semelhantes ao homem, na medida em que também eles amam, sofrem, discutem, descem do Olimpo (sua morada celestial) e convivem com os homens. As forças da natureza são identificadas como deuses, sendo estes que as animam, lhes dão vida.


            A introdução do maravilhoso é uma característica das epopeias clássicas.

            O maravilhoso tem como função simbólica:

Os Lusíadas - contextualização III

Origem do título

            Lusíadas deriva de Luso, filho ou companheiro de Baco. Era considerado como povoador e primeiro rei-pastor da última Tule à qual teria dado o nome de Lusitânia e o de Lusos, Lusitanos, aos habitantes.
            Foi André de Resende que instaurou este vocábulo por imitação de Virgílio que de AEneas (Eneias) formou AEneades (Eneida).
           
Camões escolheu este vocábulo devido ao cunho épico que o caracteriza, mas não o utiliza em toda a epopeia, permanecendo assim unicamente como título. Para denominar o povo português Camões utiliza: Português, gente portuguesa, Lusitanos, Lusos, Lusitana gente, gente de Luso, geração de Luso e pastores de Luso.  

Enriquecimento da Língua

            Camões contribuiu grandemente para o enriquecimento da língua portuguesa através da utilização de latinismos (deve-se essencialmente à nova mentalidade humanista que necessitando de vocabulário apropriado à expressão dessa nova mentalidade vai buscá-lo ao latim) e neologismos (devido aos descobrimentos surge a  necessidade de designar novos produtos, plantas, etc. provenientes das novas terras).

Universalidade do poema

            A obra enaltece as obras gloriosas do povo inteiro com base no descobrimento do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Aliás esta é a ação central do poema. Esta ação representa o ponto culminante do percurso de ascensão deste pequeno Reino. Este feito é reconhecido por toda a humanidade, uma vez que restabelece as relações entre o Ocidente e o Oriente. É Portugal que provoca a descoberta da América do Sul e o refluxo dos turcos para o Oriente, inaugurando a época moderna caracterizada pelo domínio da Europa no orbe inteiro.

Os Lusíadas - contextualização II

Origens da Epopeia

             A origem da epopeia é grega e as mais antigas  são a Ilíada e a Odisseia de Homero.

            A Ilíada relata a guerra de Tróia e as aventuras de Aquiles. O rei Micenas cercara Tróia para salvar a sua mulher, Helena, que tinha sido raptada por Páris, filho do rei de Tróia. Os gregos, escondidos dentro de um cavalo de madeira que tinham oferecido aos Troianos como presente, ocupam a cidade de Tróia. Aquiles, habitante de Tróia tenta defender a cidade a todo custo.
           
A Odisseia narra as aventuras de Ulisses, o conquistador de Tróia, até chegar à sua terra natal, Ítaca, onde sua mulher, Penélope o espera. Ulisses pensa recuperar o trono de Ítaca, que lhe foi roubado, enquanto esteve na guerra. Penélope, entretanto, ilude os vários pretendentes que a perseguem, dizendo-lhes que só casará quando acabar de tecer um manto que começara há pouco. Durante a noite Penélope desfaz o que tecera de dia e assim consegue livrar-se dos seus pretendentes, esperando fielmente por Ulisses.
           
A Eneida é uma epopeia romana, cujo autor é Virgílio. Eneias, o herói da obra, após muitas aventuras, funda a cidade de Roma. 

Os Lusíadas - contextualização I


Contexto de realização da epopeia lusíada

Ambiente histórico – Portugal vive o apogeu do domínio do mundo devido à empresa dos descobrimentos. Já tinha sido manifestada a necessidade de registar os feitos gloriosos dos portugueses.

Ambiente cultural – O incentivo do renascimento cultural através do conhecimento da Antiguidade Clássica e suas epopeias estimula à criação de uma epopeia nacional que  enaltecendo os heróis nacionais, tem como base as epopeias já existentes.

Fontes – Os humanistas pretendem com a utilização dos modelos clássicos mostrar que os heróis Antigos não são superiores aos modernos. Por isso é que se diz que a epopeia de Camões ultrapassou as da Antiguidade Clássica pela universalidade dos feitos portugueses, pelo culto da língua nacional e pela noção humanista de pátria.
            Para além das epopeias clássicas Ilíada e Odisseia de Homero e Eneida de Virgílio, Camões apoia-se em fontes literárias como Garcia de Resende e António Ferreira e em fontes históricas como Fernão Lopes e João de Barros entre outros.