Proposição
As três primeiras estrofes d’Os Lusíadas constituem a Proposição,
elemento estrutural obrigatório do género épico. Aqui o poeta deve dizer o
assunto que se propõe a “cantar”.
A Proposição d’Os Lusíadas é constituída por duas
partes, a primeira formada pelas duas primeiras estrofes tem como oração
principal «Cantando espalharei por toda a parte» e a segunda parte é
constituída pela terceira estrofe, revela uma espécie de desafio e resume o
propósito do poeta «Eu canto o peito ilustre lusitano». Nesta segunda parte o
poeta afirma que os heróis portugueses são superiores aos das antigas epopeias,
«sábio Grego» e o «Troiano», assim como
aos grandes heróis reais e conquistadores «Alexandre» e «Trajano». Desta forma
surge o desafio porque os portugueses são um povo «a quem Neptuno e Marte
obedeceram». Os portugueses que Camões se propõe a cantar venceram os mitos
porque se ultrapassaram a si mesmos.
A Proposição aponta já para os
quatro planos que, a nível da estrutura interna, constituirão a matéria
narrativa d’Os Lusíadas: o poema vai
ser a celebração de uma Viagem, de um povo cuja história se vai cantar, por
significar a vitória sobre os deuses que a eles se opunham; e tudo isto na
perspetiva privilegiada do seu “cantor”, o Poeta.
Invocação
As estrofes 4
e 5 do Canto I d’Os Lusíadas
constituem a Invocação, elemento estrutural igualmente obrigatório nos poemas
épicos. A Invocação destinava-se a pedir o favor das Musas que o poeta escolhia
como suas protetoras – essa ajuda era indispensável para que o poeta
conseguisse o estilo elevado e sublime adequado para cantar os feitos gloriosos
dos portugueses.
Camões escolhe
como musas suas protetoras as Tágides, ninfas do rio Tejo. Ele pede uma
inspiração elevada que o possa levar a cantar dignamente os grandiosos feitos
portugueses. De resto, se o ajudarem, terão também elas o prémio de se tornarem
mais célebres do que a fonte de Hipocrene (fonte inspiradora dos poetas
épicos).
Esta é a
primeira invocação que o poeta faz. Contudo ele volta a fazer invocações sempre
que o assunto que vai cantar necessita de novo alento. Invoca as ninfas do Tejo
e do Mondego, no Canto VII e Calíope nos Cantos III e X.
Dedicatória
A Dedicatória
não é um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas sim facultativo.
Camões, contudo, faz questão de dedicar o poema a D. Sebastião, o rei que então
reinava em Portugal e que o poeta vê como garantia «da Lusitana liberdade».
Trata-se de um
discurso bem organizado, em que o pólo de comunicação gira em volta do
destinatário, daí a abundância da forma da segunda pessoa e do imperativo,
elementos típicos de uma mensagem/apelo.
D. Sebastião é
visto como representante do povo escolhido por Deus, como monarca poderoso,
como digno descendente de seus avós D. João III e Carlos V, mas, sobretudo,
como pessoa em quem se investe a esperança de continuação da ação épica, na prossecução
da obra de dilatação da Fé e do Império.
O que o poeta
tem para oferecer ao rei é este seu canto de louvor dos portugueses, podendo o
rei, através deste, se aperceber do real valor do povo que governa.
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